Saturday, December 04, 2004

Mensagem Natalicia

Caro leitor, é a vinte dias do Natal, assim establecido pela Igreja, que deixo a minha mensagem Natalicia.
Ao contrário do que é costume, não vou falar dos sem-abrigo, da fome no mundo nem da peste negra do século: a SIDA. Não é que estes temas não mereçam devido tratamento e discussão, nada disso, quero este ano que se tome consciencia de uma outra vertente: A Pessoa enquanto ser na sociedade
É a partir do dia 1 de Dezembro que começa a maior corrida, a seguir ao Dakar: Falo da corrida às lojas.
É um fenómeno interessante.
Dinheiro fresco nas mãos dos consumidores, é musica para os ouvidos dos produtores e comerciantes. É ver os cidadãos a acorrerem às lojas para lá deixarem os subsidios, os 13ºs mêses e tudo o mais que possam. Em troca, exigem bens. Bens como perfumes, brinquedos (sobretudo), peças de vestuário e tanto, tanto mais...
Janeiro já não interessa, o dinheiro gasta-se como se não existisse.
Isto faz-me pensar todos os anos.
Determinado dia, ouvi na rádio alguém levantar a questão que levanto hoje. A indignação era notória: pugnava-se pelo fim do consumismo, pelo aumento da caridade e por um fim a este gasto desmedido. Na altura, devo dizer que quem falava me meteu um asco tal, que tive de mudar de sintonia, para me refazer do choque.
Hoje, aquelas palavras fazem um sentido "terrível". Parece que se tratavam de uma profecia, algo inevitável, como o fado é...
Ao fim de alguns anos, cresceu o consumismo, cresceu a procura e cresceram as dívidas entre a população nacional.
Os comerciantes dizem que há crise, dizem que não há venda, não há escoamento...Conversa...
Quem, assim como eu, esteve num centro comercial, no dia 1 deste mês, sabe do que estou a falar: milhares de almas dedicadas ao gasto e à compra cega.
Porquê?
Eu tenho uma resposta, que, está sujeita à discussão.
Tudo vem de uma sociedade de conveniencias: Se alguém comprar, eu tenho de comprar - eis o principio.
Ela não pode ter mais prendas que eu, mãe faz qualquer coisa - eis a atitude.
É da familia, fica mal não oferecer nada - eis o pensamente e a lógica, se é que se pode chamar a isto lógica...
Trata-se tudo de convenções sociais e comportamentos massificados e concertados, que se dão em determinadas alturas do ano.
Na mente está um dever ser na compra, no consumo.
Isto tem dois culpados: o comprador e o vendedor. Tudo se trata de um ciclo vicioso que se vai fortalencendo ao longo dos anos. Ao vendedor cabe criar novas necessidade, a comprador cabe ter algum sitio para gastar o seu dinheiro. Cabe-lhe também passar a ideia de que é "bom" consumir. Vendedor cria, comprador sente necessidade. Comprar, gastar, voltar a comprar, entretanto já pensa de forma ostenciva, quer mostrar mais e mais...
Nos dias que correm é assim que funciona. Já não interessa a companhia, o bem estar, a família e os amigos, o que importa é manter as aparencias e uma falsa alegria.
Não pense o leitor que quero marginalizar os vendedores ou produtores. Eles têm de fazer o seu negócio, são seres-humanos que sobrevivem de alguma maneira. Eu estou a culpar uma sociedade de exageros, uma sociedade de excessos, em que eu me incluo.
Não tem que haver esta procura infinita. Não têm que haver estes excessos.
Quero então deixar o meu desejo para este natal: esqueçam-se as compras, esqueçam-se as horas passadas num shopping a comprar e comprar...esqueça-se tudo isso.
Ao invés de passar essas horas nessas actividades, porque não investir num tempo familiar ou mesmo numa comunidade de amigos?
Na noite de Natal, substitua-se a hora de abertura das prendas por um bom momento de alegria e de união. Um bom jogo, uma boa conversa, um bom convivio.
Parece irónico escrever isto, ainda por cima quem me conhece bem sabe que eu adoro prendas, não o posso negar, de forma alguma.
Quero é que não se excedam tanto os habitos do ano que acaba. Desejo que haja união e não dever, prazer e não obrigação.
Foi, então, a minha mensagem de Natal, a vinte dias do acontecimento, mas quem diz que nunca é tarde, eu digo que nunca é cedo.
Boas Festas

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