Tuesday, October 24, 2006

"Deves ter uma vida mesmo má"

Olhando para coisa nenhuma, eis que me dizem isso, depois de me perguntarem se pensava na minha vida.
Toda a semana nisto. Começou a apertar o regime avaliativo das aulas práticas, com bastante estudo, muito trabalho e o aluno a não chegar para as encomendas.
Que miserável me senti. Um zero que perdeu uma discussão, um pequeno empresário de uma padaria, numa aldeia de doces.
Até hoje.

"Tirando o óbvio, não sabe lidar com as pessoas."
"É um preconceituoso."
"Sim"

Aulas hoje, trabalho, incapacidade, falhanço, e amanhã já há obrigações com aquele amontoado de gente. Que vida a minha.

Na imagem, um Pai que empurra uma cadeira de rodas na direcção de uma mesa cheia de caloiros e caloiras. Devia ser o seu primeiro almoço em que estavam todos juntos. Numa espécie de impasse, esperou que vagasse um espaço entre colegas, de modo a que coubesse a cadeira da sua filha.
A alegria estava estampada no seu rosto. Não terei visto laivos de alegria tão evidentes, ultimamente.
Depois de conseguir o lugar, e de ver que a menina socializava com a turma, foi-se retirando, satisfeito.
Ali ficou ela. Os colegas olhavam-na com algum receio, talvez por ser uma situação nova. Mas, ainda assim, não se coibiram de lhe endereçar algumas mensagens e de encetar uma comunicação. Ela é que, muito tímida, com um ar misturando medo, curiosidade, aflição e alegira, sobretudo pelo olhar, ficava na expectativa.

Foi sobretudo o ar dela. Foi também o ar dos pais. Primeiro, do progenitor, que mostrava uma vitória que transbordava nos pequenos gestos corporais que mal conseguia conter.Depois, da mãe, que, aparecendo mais tarde, abraçou a sua filha por trás, beijo-a e seguiu, contente como se tivesse ganho o Euromilhões.

Os meus problemas são uma página do manual de Tratado de Direito Civil do Menezes Cordeiro e eu sou um fútil.

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