Friday, October 20, 2006

Do Movimento Associativo

Começo este post pelo que seria o seu fim: faz já algum tempo que o Dr.Marco Capitão Ferreira, numa aula prática, perguntou duas coisas. A Primeira foi se alguém pertencia a alguma Jota, ou seja, um juventude partidária. Não me acusei, nem ninguém o fez. Seguidamente, a outra pergunta:"Sabem como é que se ganha o cargo de Presidente do Nucleo de Residência? Juntam uns 100 amigos, todos inscritos e votam em massa". Disto nunca mais me esqueci, sobretudo porque achei descabido. Mas não é.
Faço parte de uma faculdade que outrora fora conhecida como o ninho dos políticos. Quando comecei a tomar o pulso ás dificuldades de um curso de Direito, interroguei-me: como seria possível formarem-se políticos e estudantes de Direito ao mesmo tempo? Ou se é uma coisa, ou outra. Mais uma vez, verde, percebi que se fazem as duas coisas, é tudo uma questão de tempo.
Dismitificadas estas realidades,pergunto-me: este movimento associativo, esta luta académica, é o quê?Sabe-se tudo, sabe-se como conseguir tudo, o que é ela, de facto?A luta académica ganha um sentido bem diferente. Se antes havia uma demanda pro-discente, hoje tudo o que resta é a luta pelo cargo. Não o cargo pela possibilidade de fazer qualquer coisa, mas o cargo pelo cargo. Como se isto não bastasse, são escabrosos os meios de o conseguir: vale tudo, das mais elementares tácticas até à guerra de trincheiras, recurso a guerrilha e ataques directos por pessoal anónimo. Isto é a verdadera luta do "hoje em dia".
Entram para a faculdade pessoas sem a perspectiva de se tornarem verdadeiros profissionais do curso que escolheram. Preferem profissionalizar-se na amizade de circunstância, do calor do momento e da fuga para a frente. Formam autênticos gangs políticos, constituem blogs, publicam cartazes, escrevem panfletos. Todos ainda no berço.
And hells freezes over, à medida que Janeiro se aproxima, momento eleitoral, naquela espécie de instituto público. Terei dito que não votava, a muitos dos meus amigos, mas acho que mudei de ideias. Este circo merece que vote. É que a partir do momento em que deixe de decidir o que me compete decidir, na medida em que posso decidir, perco toda e qualquer legitimidade de me manifestar contra este oportunistas que enchem o meu local de estudo com as luzes da ribalta na cabeça.
Termino, como deveria ter começado: São anos da minha vida em que o comportamento humano, na sua vertente de sede pelo cargo, pelo poder, ainda que muito mitigado, será mais que comprovado, reprovado e intolerado. Os trapezistas de hoje serão os mágicos de amanhã. Como tal, resta saber quantos coelhos podem sair da cartola, em momentos de crise real, como é exemplo da reforma que Bolonha implementará.

5 Comments:

Blogger epb said...

Tás a ver a virtude do voto em branco. votas, mas não concordanso com ninguém cabas por dar a tua opinião. e assim ninguém te tira a legitimidade de criticar.
Isso de que falas é um micro-estado, onde se luta a brincar (ou a sério) para os "observadores" verem quem tem estofo para se aguentar na política. E depois vem a célebre frase (neste caso invertida) "only job for the boys". E podes crer que cada vez mais acredito nisso.

3:29 AM  
Anonymous Anonymous said...

Do que tu te queixas já Aristóteles falava: "o homem é, por natureza, um animal político".

Ora eu diria que o Homem é, antes de tudo o mais, um animal. Eu sou, tu és, ele é, nós somos... Há os honestos, há os moralistas, há os calculistas, há os malabaristas... todos animais.

E o político é aquele que, tendencialmente, usa fato e tem o dom da oratória. Quando falam pintam o negro de dourado e as suas palavras convencem o bom cidadão, que é mais ou menos aquele que não quer saber "quem" desde que esse quem trabalhe por ele... sejam eleições de 4, 6 ou 7 na escala de Richter.

Mas quando se vota não se deve votar em branco. Porque o branco é a cor da rendição, da toalha ao tapete e do "whatever happens i didn't do it". Mais vale não votar e deixar que os escaravelhos rebolem a sua própria *****.

P.S. Frase que mais me fez rir nas últimas eleições: "ou votas ou levas".

4:07 AM  
Blogger Лев Давидович said...

Não concordo que o branco seja a cor da rendição. É uma maneira de dizer, pela via democrática, que não se está satisfeito com nenhuma opção, com nenhum representante, como tal, se toda a gente votar em branco, as consequências são sobejamente conhecidas. Não vtar, no meu ver, é perder qualquer legitimidade de poder dizer seja o que for, mas isto sou eu que penso.
EPB, os observadores, sempre eles, parecem os motores daquele movimento, uma espécie de catalisadores. Quem queira ser político começa já e começa bem.

4:35 AM  
Anonymous Anonymous said...

O nosso pensamento raramente está em sintonia. O meu raciocínio é este:

a) Quem defende o voto em branco pensa: "votar é branco é exercer um direito constitucionalmente previsto". Consequentemente pensa ainda: "é melhor votar em branco que não votar".

b) Mas o que demonstra mais uma crise de confiança e de entusiasmo pelo sistema de governo?! Será mesmo o voto em branco?! Ou não é mais preocupante para um Estado um elevadíssimo nível de abstencionismo? Aquele que vota em branco acha que algo está mal. Aquele que não vota não só mostra que algo está mal como que o actual sistema de governo nem sequer merece a sua consideração.

5:08 AM  
Blogger Лев Давидович said...

Isto só tem graça se discordarmos uns dos outros :D

Tens razão no que dizes, mas, actualmente, eu não estou contra o sistema, só contra a leva de pessoas que o caracteriza e preenche. Se mudar, aí concordo contigo quando dizes que não votar será mais significativo

6:30 AM  

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