Friday, March 17, 2006

Sorbonne de 2006

Que saudades de uma França assim.
Devo confessar que é um país que não tenho em grande conta: é snob, vive no passado, tem uma lingua detestável, totalmente pretenciosa...enfim, não é para denegrir os amigos europeus que vos dirijo este post.
Há uma realidade a ocorrer nas ruas de Paris. Como (quase) todas as realidades, ela não é bonita. Eis os factos:
-Milhões de desempregados, cerca de 20% da população gaulesa;
-Um pacote neoliberal de novas "facilidades" para o despedimento.
-À saida da faculdade, torna-se impossível arranjar emprego e conseguir concretizar um projecto de vida.
Daqui sai o que mais belo tem o ser-humano: a capacidade de fazer mudar o seu destino, de lutar por aquilo que quer, de se fazer ouvir e sentir.
Foi o que aconteceu em Paris. Desde a barricada na célebre faculdade, até às sucessivas manifestações, levadas a cabo nas ruas da cidade luz.
Finalmente concretiza-se, em acções exteriores, a revolta interior daqueles que, como eu, são estudantes.
É hora de perceber o aviso: a realidade nacional não difere. Os problemas acumulam, o respeito pelo trabalhador cai na lama, o desemprego, ainda que não tão alto, é um câncro nacional.
Foi Fukuyama que precognizou a queda do debate ideológico. Foi o mesmo que afirmou a vitória do liberalismo.
É mais que certo que se foi longe demais. A vergonha do desprezo, da politica da "sobrevivência do mais forte", e de um mercado falante atingiram o cume, de uma montanha muito alta.
O povo reagiu...terá mesmo morrido o debate? Terá morrido a vontade por um mundo melhor?

6 Comments:

Blogger Inês said...

"a capacidade de fazer mudar o seu destino, de lutar por aquilo que quer, de se fazer ouvir e sentir"

é bonito, não é? =)

1:14 PM  
Anonymous Anonymous said...

1)França é a Luz. A pátria da philosophie des lumiéres, do humanitarismo, da arte, da cultura, dos jurisprundentes elegantes.. Lembra-te do Código Napoleão: acolhido por força das armas mas, em muitos outros casos, por livre escolha das nações.

2)Se aprovada, esta lei facilitará o ingresso no mundo do trabalho, mitigando o efeito dissuasivo dos aumentos salariais e outros benefícios. Caberá ao jovem demonstrar o seu valor e vingar. Não façamos furor - a verdade é que os despedimentos em massa acontecem mesmo para os trabalhadores mais fiéis. A economia dita, a política segue. Proteger os trabalhadores sim, mas por vezes há que "ceder" para proteger. Only time will tell..

3)Com todo o respeito pela "carocha" lutar é bonito, sim, se a luta for honrosa. O Maio de 68 já la vai e ainda hoje me custa compreender os excessos cometidos em nome da "luta". Barricadas erguidas no meio das ruas, carros incendiados, polícias "metralhados".. Mas se as coisas chegam a esse ponto algo tem de mudar.. quem vai dar o braço a torcer?

Cumprimentos apaziguadores à gerência!

2:21 PM  
Blogger Inês said...

curunír, não faço qualquer apelo à violência, nem aqui, nem no meu blog, e nao me imagino a fazê-lo.
luta, por causas "honrosas", sim por favor (sem exacerbismos violentos, sff). agora o problema, se assim se pode dizer, é que a honra é relativa.

dizes que esta lei facilitará o ingresso no mundo do trabalho, mas, como deves ter reparado, também facilita, e muito!, a saída: a possibilidade de despedimento sem justa causa nos dois primeiros anos de contrato como benéfica para os jovens desempregados é, no mínimo, estranha. estar dois anos num emprego aparentemente estável para depois regressar a um mc donalds ( se tanto), para não gastar dinheiro com aumentos salariais? e por que não basear os aumentos numa progressão na carreira pelo mérito? claro que depois há a questiúncula da igualdade de oportunidades que pronto... e blá blá.

pessoalmente, não me parece uma boa medida, mas "eles têm os números" e eu sou (mais) uma leiga.

bjs

3:43 PM  
Blogger Carim said...

Excelente post

4:13 PM  
Anonymous Anonymous said...

Também sou contra a violência e não acredito que ela seja reflexo d"o melhor que o ser humano tem".

Por isso sou definitivamente contra este tipo de leis, mormente na sociedade europeia, onde as oportunidades de empreendorismo não abundam. Talvez nos EUA se possa rir do conceito um bocado pateta do direito ao emprego.

Infelizmente, a Europa não é a terra das oportunidades, onde se não estamos satisfeitos com o patrão podemos tornar-nos patrões nós próprios e deixar de exercer leis de trabalho (se é que se pode chamar isto ao asco francês...) com as quais não concordamos.

A Europa não é ainda o local para apatetarmos o conceito de direito ao emprego, infelizmente. De certa forma, exigir para nós próprios a dependência de um empregador não nos dignifica.

Apenas por hoje, a França não faz jus à ideia de que a única coisa errada em França são os franceses. Vive La France!!

4:44 PM  
Anonymous Anonymous said...

A França vive no Passado? Portugal é que é bom pra caralho, né???

5:21 AM  

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