Friday, July 23, 2004

Resumir-se-á o mundo a críticas?

Hoje escrevo mais cedo que o habitual. Não será habitual escrever sempre as estas horas, mas hoje, simplesmente, calhou.
Ontem, quando á procura de um programa que me agradasse, estableci-me na TVI, quando estava a ser exibido o "Cartaz das Artes". O nome não dá margem para não entender a indole do programa. Depois de serem citados um serie de livros, o apresentador passou ao teatro. Falou-se então da novíssima peça de Lá Feria, "Rainha da Sucata". Depois de dizer que o conteúdo da obra gira em torno da ascenção de um negociante de sucata que, depois de enriquecer, começa a involver-se no tráfico de armas, em perigosas ligações, manipula os meios de informação, enfim, toda uma panóplia de "feitos notáveis". Depois desta descrição, segue-se o comentário que me deixa pensativo: "Uma obra actual e que chega a tempo a Portugal".
Agora pergunto eu: Haverá nessa sociedade Portuguesa histórias de cariz semelhante?
Mais ainda. Foi também lançado "recentemente" o último livro de Saramago, o valoroso Nobel da literatura. De seu nome "Ensaio sobre a Cegueira", a obra presta-se a uma reflexão e a uma suposição deveras bizarras. É que em determinado dia as pessoas perdem um dos 5 sentidos: a visão. A partir daí toda uma metáfora liga uma situação inimaginável, impossível e incrível, á situação do país que temos hoje. Há inclusivamente uma gigantesca turba que, quando chega a hora da votação, vota em branco. Descrita pelo autor como uma obra polémica, actual e que dá que pensar, volto á carga: Há tanta necessidade de criticar assim o sistema político?
O que considero é muito simples: tanto um autor de nome, que é Saramago, como o famoso encenador, que é La Feria, estão apenas a tentar manipular e ter uma influência negativa na sociedade. A ideia de corrosão, de crítica e de guerilha são indicadores constantes nestas duas "personagens". Á miníma distracção, la temos La Feria na T.V a dizer que o governo não presta, não ajuda e não faz nada. Saramago por seu lado, mais contido, não despediçou o trunfo que é vender aquilo que todos compramos: Polémica. 
Da mesma maneira que citei estes dois exemplos, há por esse país fora muito crítico de "bancada", grande na crítica, pequeno na acção. Pergunto: Para além de grandiosos espectáculos, que fez La Feria para contrariar o flagelo de que ele fala? Não se refugie no facto de avançar para a idealização das peças sem um único apoio. Sem dúvida tem valor, mas não o torna numa voz dos injustiçados.
Da mesma maneira não quero dizer que não são necessárias vozes de protesto, obviamente são. O insatisfeito tem de ter voz, o carente tem de ter voz. Mas tem que ter uma voz que saiba o que diz e que saiba intervir quando é preciso. Mas usar uma história Americana  (em que nem os nomes se adaptaram) dos anos 50, não é de certeza uma maneira de expressar desagrado. É sim uma maneira burguesa de mostrar uma postura falsa e, por vezes, ridícula.
Quero agora mostrar o avesso da situação. Para que se saiba, morreu hoje Carlos Paredes, o mestre da guitarra Portuguesa. Eu, com os 18 anos que tenho, sei de toda uma geração que nunca conheceu a guitarra deste senhor. Homem de ideais, talento e força, morreu, quase sozinho, como um desconhecido entre os novos. Nunca foi preciso que escrevesse uma musica contra o sistema, para que se percebesse de que lado da barricada é que ele estava.
Por fim deixo o meu apelo: quem souber de alguma historia de um rico famoso, do qual se suspeite de ligações perigosas, por favor digam-me quem é. Pode ser que La Feria até soubesse o que dizia. 

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