Tuesday, August 22, 2006

O Sonho Europeu

Não se trata de um dissertação acerca dos prós e contras de uma Europa forte. Muito menos se pretende mostrar que a Constituição Europeia é um futuro quase palpável.
O Sonho Europeu reside nos que, fora da Europa, tentam progredir na sua condição de vida. Reside em seres humanos, como o autor ou leitor, que tentam dar significado à expressão "dignidade da pessoa humana", já tão irritantemente repetida, desvalorizada, pisada e humilhada.
Numa época em que voltam à berlinda temas quentes da cena internacional, temas que se podem traduzir, em última análise, na colisão esquerda/direita, nomeadamente se se pretender associar Kim Jong Il ao moderno Estalinismo, ou relacionar a crise dinástica Cubana à tradicional falta de abertura dos partidos de extrema esquerda, sabemos que, por outro lado, o liberalismo selvagem americano, acompanhado de devido acervo expansionista, são temas que nos fazem lembrar os ensinamentos do ensino secundário. Ainda para mais com o "nascimento" dos Chaves e Ahmadinejad.
Se procurarmos, como na blogosfera se tem visto, distinguir a Direita da Esquerda, começa aqui, senão a principal, uma das principais questões que tem de dividir aqueles que acreditam na expressão que usei, dos outros: a emigração.
Aqui, perdoem-me a parcialidade, seria muito, alias, cem vezes mais fácil defender o fecho total e efectivo das fronteiras. Mandar o célebre bitaite do "fora com eles", ou mesmo "portugal aos portugueses" seria aquela roda dentada que faltava para por a funcionar uma engrenagem de estupidificação geral e de conseguir chocar, ou como gostam de referir, ser irreverente. Pela parte deste que vos endereça estas palavras, a questão é uma e só uma: merece morrer no caminho, alguém que quer subir na vida? O problema é demasiado actual: a nivel de habitantes da África sub-saariana, há uma porção elevada de pessoas a tentar chegar à Europa. É diário o flagelo a que assistimos, nos telejornais. Mortes, feridas físicas e psicológicas e o fracasso total. São pessoas, pessoas que vivem milhares de quilometros abaixo do limiar de pobreza. Pessoas que não têm nada. Pessoas, pessoas!
Quando se houve alguém a defender o fim da abertura das fronteiras, deve apostar-se bem que estamos a falar com um dador de coração, ainda vivo. Pode crer-se que há ali alguém que defende, com unhas e dentes, a não progressão social, o fim da subida de classes. Haverá, como sempre houve, a hipocrisia de dizer que não é o mesmo, mas é. A tentativa de emigrar é algo tão válido e real como o esforço pela promoção na empresa ou no emprego. E, como em ambas as situações, quem está por cima ( na situação de emigração será o natural daquele país e na empresa será o patrão) olhará sempre de esguelha para quem vem abaixo. Cumpre perceber o que andamos a fazer no mundo.Chega uma altura em que, se se defende efectivamente o que se pensa, tem de ser agir, pugnar pela dignidade de quem, como todos, tem direito a uma decente qualidade de vida.
Não é de esperar algum tipo de compaixão por parte dos outros. Não é, porque nunca foi. Cumpre, primeiro que avaliar qualquer impacto, quaisquer consequencias, perceber que, acima de tudo, até da suposta divindade, está a vida humana.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home

Gente sem Amor à Sanidade Mental