Wednesday, August 30, 2006

Conversa de Café

Lembrei-me que nunca mais falei da Igreja.
Decerto que os meus habituais (sendo eles tantos) leitores me perdoarão tamanha falha, mas como o que é bom, o mau também acaba.
O baptizado. Sabemos bem de que sacramento se trata. Quem frequentou a catequese saberá que, com o Baptizado, se abrem muitas portas: entramos na família de Deus, somos "oficialmente" católicos, podemos casar pela Igreja e, mais importante que estas últimas: somos aceites pela sociedade/comunidade. Posto isto, a questão "para que é que serve" encontra-se ultrapassada.
O busilis (essa bela palavra) reside no aspecto da vontade. Sabendo que o Baptismo não é um negócio jurídico, ou seja, um evento ao qual o Direito associe a extinção, modificação ou criação de situações jurídicas, temos que apurar o papel da voluntas noutro plano: o social. Quão importante é, socialmente, estar ou ser baptizado? Actualmente, a importância está, relativamente ao passado, diminuida, porque a publicidade do acto não é tão evidente e as comunidades alargaram-se, mas o estigma social do não batizado transforma-se em considerações alheias de falta de amor pelo filho, por parte dos progenitores, talvez numa relação satânica establecida entre a familia x e o Satanás mafarrico da Silva, ou mesmo num descuido e vontade rebelde de todo um lar. Atendendo a esta potencial coacção de que possa vir a ser vítima, a familia alia ao comum "laisser passer" tuga a aceitação social. E faz-se o Baptizado.
Por detrás desta simulação, está o negócio dissimulado. (Bem quero fugir ao "examen", mas não consigo). Apuremos a verdade.
Por norma, o baptizado faz-se é ainda o ser humano um puer, desprovido de qualquer mecanismo que lhe permita defender-se de uma ideologia e de uma organização à qual não queria pertencer. Falta a ponderação.
É costume a festa do baptismo ser em grande: beacoup de comezaina, plenty of Boose e Emanuel e Zé Malhoa até cair para o lado. Para quê? Não quero voltar ao "quid" social que uma festa destas tem.Mais ainda: seria demais evidente exaltar a importância de levar com água na cabecinha. Há que ser justo: publicidade há-a com fartura.
Bento foi Baptizado. Bento é atleta. Ao querer entrar para um reputado clube de atletismo, perguntam-lhe se era Baptizado. Ao responder sim, o Secretário responsável pela admissão, liga para a paróquia e , oh que pena, perdeu-se o registo. Resposta: não há cá pão pa malucos, sei lá se foi mesmo baptizado. Não há prova.
Só temos 1 requisito para apurar a validade disto. Não chega. Não se safam com dissimulações.
O baptizado,per se, é um instrumento:
-Dos pais, porque têm de demonstrar qualquer coisa a qualquer pessoa, que acabam por se esquecer do essencial: le jeune, l'enfant.
-Da igreja, que consegue a conversão de uma forma tão simples.

5 Comments:

Blogger Macambúzia Jubilosa said...

Grande parte das vezes, as pessoas fazem as coisas sem pensar bem porque as fazem. Fazem-se porque toda a gente as faz, porque é mesmo assim.A ritualização de eventos concretiza alguma sensação de certeza e esfrega-nos o ego (ilusóriamente é claro). E acima de tudo promove o controle social. Fica muito bem estipulado o que se tem de fazer. E a igreja sempre soube utilizar isso muito bem.

A festa (casamento, baptizado) é o mostrar à sociedade, um ritual de passagem, "veem? já me casei já sou homenzinho, e cheio responsabilidades", "veem? já tive um filho, já fiz parte do meu papel no mundo" E por aí adiante...

Eu sou baptizada e se tivesse tido a oportunidade de tomar a opção, não tinha sido. Mas também não é nada que me tire o sono.

Mas felizmente, algumas tradições já não são o que eram...

5:27 AM  
Blogger Flecha Ruiz said...

De facto o baptizado está transformado numa accção de aceitação social.
No entanto há 2pontos que importa esclarecer.

O 1º (obrigatoriamente o 1º) refiro que não sou católico, embora já o tenha sido. Não vou defender a posição da Igreja pela situação do baptismo aquando a vulnerabilidade de pueril alma, vou esclarecê-la.

2ºponto (é o tal esclarecimento), Era uma vez, há muitos muitos anos atrás, uma criança que ainda não era baptizada e os pais queriam que ela assistisse à missa porque era do seu (deles e dela -criança) interesse ouvir e interiorizar os ensinamentos do Senhor...o que é que aconteceu? Não pôde! E porquê? Porque não era baptizada!

Apesar de não ter conhecimento que esta história se tenha realmente passado acredito piamente que sim. Passo a explicar: Quando os membros da Igreja tinham um poder fenomenal devido à ignorância e analfabetismo das pessoas e, consequentemente, os cânones eram respeitados só se poderia entrar na Igreja sendo baptizado. Era forma da Igreja arranjar "adeptos" mais rapidamente (como é referido no post), mas facto é que os pais e avós, com medo da fúria divina e (lá está) censura da comunidade (que era mais pequena e interactiva que hoje em dia) appressavam-se a regar a a criancinha. Como repararão nas igrejas mais antigas a bacia do baptismo está à entrada, mas se não tiver é porque foi movida lá para a frente.
Está assim exlicado o porquê do baptismo enquanto ainda aspirante a catraio. Estes costumes são dificeis de perder e embora já não se baptize o puto quando ainda mal abre os olhos, ainda se os baptiza cedinho (aí até as 5 anos, na GENERALIDADE dos casos, está tudo baptizado).

Os comes e bebes não tem nada a ver com o baptismo!Ou por outra, têm porque o tuga gosta é da paródia, gosta de encher o papo e gosta de ter um pretexto para beber uns copitos a mais sem que ninguém o censure.
Mas vendo isso noutro prisma...hoje em dia quais são as situações em que a familia se junta toda? Há uma facilidade de mobilidade fantástica que cria a dispersão da familia pelo país, quiçá, pela europa...cada vez o divórcio é mais uma constante, o que também afasta famílias...etc e tal!

Assim de repente ocorrem-me 3 motivos onde a família se juntará na sua quase totalidade: Baptismo, Casamento e Funeral.
O último é mórbido e não há festa...há comida mas é só para não darmos todos em doidos. Apesar disso não me parece que seja a altura ideal para pôr a conversa em dia.
Sobra-nos o casamento e o baptizado!É capaz de haver mais alturas (não refiram o natal, por favor!) mas nestas 3 está lá quase toda a gente ou mesmo toda a gente.
Estará errado usar uma celebração religiosa como pretexto para juntar a família ainda que seja para emborcar? Talvez...mas a Igreja refere a importância da união familiar, coisa que cada vez é mais rara...ao menos assim estamos todos lá...

5:42 AM  
Blogger Лев Давидович said...

Apesar de algumas tradições não serem o que eram, e isso é mais que certo, não deixam de existir. Tudo bem que não tira o sono, mas acho que um ateu baptizado, como é o meu caso, não se acha tão habil para descobrir o papel da divindade na vida humana estando permanentemente ligado à fé católica via sacramento. Concordo que não é matéria que não tire o sono. O que queria realçar é a escolha que o/a bebé não tem. É submetida à molhadela sem saberem se ela quer ou não. E isto é tão grave como a circuncisão, não quero atacar só uma religião. A escolha (ou a falta dela) é mesmo o grande defeito desta celebração.
Por outro lado, e nisso há muita razão, é um festa de união para a família, todos se juntam, ou quase todos, vá lá.
Todavia, acho que havia festança na mesma se o ser, com idade de saber o que quer da vida, decidisse pelo baptismo. Se não, fazia-se a festa na mesma, mas sem motivos religiosos. mas isso são outras danças

6:36 AM  
Blogger Macambúzia Jubilosa said...

Beeeeeeem...a circuncisão é uma coisa bem mais definitiva... oh lev... É inclusive uma violação do corpo.

O baptismo é aquilo que tu dizes, uma molhadela. A interpretação do acto em si (ritual) cada um a faz para si. Eu, assim que tive oportunidade de ver as coisas com algum sentido critico encarei o meu baptismo exactamente assim: uma molhadela.

E nunca me senti permanentemente ligada à fé católica via sacramento. Eu nem sabia o que era aquilo e quando soube, deu-me vontade de rir.

Mas concordo em absoluto contigo, não deve optar pelo outro. E devemos nascer e ser neutros ("puros"), até termos idade para decidir com todas as informações em nosso poder.

Mas estas coisas vão acabar de forma progressiva e natural. Pelo menos espero que sim...

7:31 AM  
Blogger Flecha Ruiz said...

Também sou um ateu baptizado e comungado! Isso arrepia-me? Não! No entanto a minha história é diferente. Já referi que fui católico e apesar de não me terem consultado para o baptismo e na 1ª comunhão ter 10 anos isso foi uma opção que tomei e com a qual vivi contente. Entretanto, por diversos motivos entre os quais a leitura e percepção da realidade, aferi que não me identificava com qualquer tipo de crença divina.

Isso agora pouco me importa porque resta-nos entender a perspectiva parental.
Tendêncialmente um pai e uma mãe querem o melhor para os filhos. A melhor educação, os melhores ensinamentos, a melhor prestação e os melhores valores. Da mesma maneira que lhe ensinam que dizer "por favor", "perdão" e "obrigado" por acharem que é a forma mais correcta de agir, ensinam-lhe os valores católicos ou religiosos que entendem ser os que melhor se adequam ao crescimento e desenvolvimento da criança e à sua prestação enquanto ser humano integrado numa sociedade de conceitos e objectivos.

Também ninguém me perguntou se eu acho que as mulheres devem ou não obedecer aos homens, no entanto desde cedo me ensinaram a ceder um lugar numa cadeira ou a abrir-lhe uma porta. Trata-se de uma questão de amabilidade e educação...incutida pelos pais que acharam que é assim que as coisas devem funcionar. Ao mesmo tempo ensinam que praticar os ensinamentos de Deus será a forma mais próspera de viver, da pessoa se sentir melhor consigo mesma e com os outros.

12:44 PM  

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